segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

De tempo em tempo

De tempo em tempo, em meio ao tédio de contar dinheiro, dar troco, destacar bilhete, meu pensamento corre para suas mãos nas minhas pernas, sua boca e dentes na minha orelha... Meu pensamento corre para as minhas mãos por baixo da sua blusa, na sua pele, meus dentes ao pé do seu ouvido, minha língua percorrendo seu pescoço...

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Sua presença

Tentativa de guardar lembranças 

A cama bagunçada
Sei que você dormiu aqui
O lençol solto do colchão
É seu corpo inquieto
Nessas noites compartilhadas
As coisas pelo chão
É que na cama só cabe nós dois 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Eu sou o resto do resto

Eu não escrevo mais
Eu não danço mais
Eu não falo mais
Eu não saio mais
Eu não sorrio mais
Eu não abraço mais
Eu não beijo mais
Eu não transo mais
...
Eu sou o resto do resto
Que me tornaram
Me recolho em saco de lixo
Pra bater o ponto no dia seguinte

sábado, 22 de agosto de 2015

Te quero na minha cama

Te quero na minha cama
Sem medo
De olhos vendados
Gemendo

Te quero na minha cama
Tranquilo
Dormindo
Murmurando palavras
Em sono convulso
De quem implode problemas

Te quero na minha cama
Secando meu choro 
Inexplicado
Consolo

Te quero na minha cama
Calmaria 
Sob a luz do sol que invade
Inverno
Dissimulando verão

Te quero na minha cama 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

E a polícia mata gente inocente

Não me lembro agora se é entre as estações Armênia e Tietê ou entre Tietê e Carandiru. Mas o fato é que olhando pela janela do trem se vê grande escrito em um prédio a realidade: Polícia assassina trabalhando.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

São João



São João. O cheiro de pólvora no ar. As biribinhas estalando no asfalto, os fogos explodindo nos céus, a chuvinha na mão da criança. A fogueira pra acender o rastilho de pólvora em luz era dentro de meu peito. 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Anarquia

Essa anarquia me bota louca
Me vira a cabeça 
É ele pedindo pra me chupar 
Ela gemendo no meu ouvido no meio da pista de dança 
É ele me botando por cima 
Me fazendo gemer alto 
É o prenúncio de que poderia beijá-la assim que a visse 
Ela me dizendo que meu beijo é bom
Ele dizendo que assim eu ainda o mato 
E mato 
Antes que me mate
Que me enlouqueça 
Que me anarquize cada arrepio 
Cada gemido 
E orgasmo 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Rotina

Agora são oito horas e trinta minutos 
(Por extenso)
Ou talvez nove horas 
Até que o relógio de ponto me liberte 
Provisoriamente 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Versos apressados depois do choro

a Bof 

Não me desmonte assim
No meio de uma noite fria de quarta-feira 
Colocando meu choro sobre os trilhos do trem
Não me desmonte assim
Depois de dançar a noite inteira 
Que sou obrigada a dizer
Te amo 

domingo, 28 de junho de 2015

A volta dela

É o seu sorriso quando eu avançava por inteira pra dentro de ti. É o seu cabelo bagunçado pelo travesseiro e pelos meus dedos. Suas costas nuas e seus seios brancos que eu beijava poucos minutos antes. São os meus gritos ainda ecoando pelo quarto. É toda a surpresa de ter de volta os seus beijos e pela primeira vez não precisar te adivinhar nua, pois eu te via por inteira na minha cama sob a luz que invadia a janela que você escancarava.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Meu corpo contra o seu

Guardo os fragmentos de diálogos 

- Ta muito bonita essa sua foto - minha mão em sua perna. 
Sorriu envergonhado. 
- Obrigada - a mão encostando em meu ombro. 
Se sentia vergonha disso, desejei que você não adivinhasse todo o resto que penso sobre ti, como penso a beleza que foi o meu corpo nu se movendo contra o seu.  

sábado, 20 de junho de 2015

Mete

Esse tesão de te ver tremer. Você quem quer que seja. Quando eu sussurro "mete".

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Impotência

Ando a flor da pele. Ele se aproximou das catracas e eu já fui perguntando se ele queria embarcar, essa mania de liberar qualquer um me rendeu o apelido de "Gabriela passe livre". "Não, moça, eu só queria saber se tem alguma assistência social aqui em santana". Não sabia, não sei. Respondi meio de surpresa, ia me oferecer pra procurar, mas ele já foi me agradecendo e me virando as costas. Foi até um senhor dos olhos claros que mora no terminal, falou algumas palavras e os dois se afastaram de cabeça baixa. Marejei os meus olhos. Impotência.

sábado, 6 de junho de 2015

Amor em tempos de whatsapp

            Na tecnologia os áudios do whatsapp te trazem mais perto. Sua voz ecoando quase te traz presente. Nossos corpos se esbarrando no virar e desvirar da insônia em sua cama e sua mão em conseqüência inconsciente avançando por baixo do meu peito, me abraçando, suas coxas a encaixar entre as minhas. E sua voz murmurando qualquer frase ininteligível acalmando meu sono nervoso. Afastando o frio em sua pele quente.

sábado, 9 de maio de 2015

Alice e seu sobretudo rosa


O bilhete foi rejeitado pela catraca.
- Coloca o bilhete de novo, senhora.
- Oi, eu sou a Alice – me disse uma voz baixinha vinda de baixo do tripé.
O cabelo preto enrolado, a pintinha no nariz, e o sobretudo cor de rosa.
- Oi, Alice. – testei o bilhete e ele foi rejeitado de novo. - Senhora, eu vou assinar o bilhete e a senhora troca direto no caixa.
- Eu to indo pra escola.
- Você ta indo pra escola já? – a cabecinha mal tocava o tripé.
- Sim, eu vou pra escola com o João.
Me chamaram na outra catraca.
- Pronto, senhora, ta aqui o bilhete.
- Vamos, Alice.
Na pressa Alice e seu sobretudo rosa ficaram em mim, a sua pintinha ficou em meu sorriso.

domingo, 3 de maio de 2015

Cardiopatia


Me dói no peito os mendigos escorraçados no terminal de ônibus.
Me dói no peito as crianças sentadas embaixo do balcão da bilheteria pedindo algum trocado.

domingo, 26 de abril de 2015

Carolina

Carolina, hoje você invadiu o trem em que eu estava. Eu tinha os olhos vidrados de tristeza e olhava meu reflexo com medo de te ver. Mais cedo Luiz tinha me dito que o mundo estava desmoronando - não era minha sensibilidade aflorada. Era você, Carolina, você e seus meninos me dizendo que não tinha comida para dar para a menina mais nova, que estava com você e que seu filho maior tinha ficado no seu barraco. Era você que me fazia me envergonhar da minha tristeza egoísta e mesquinha.

domingo, 19 de abril de 2015

Escritos sobre você

- Viu?! ja consegui o seu sorriso. Você é facinho... 

- nao é por isso que eu estou sorrindo

- é pelo o que?

- por você ter vindo... 

 

- você já almoçou?

- almocei antes de você chegar 

- se você nao tivesse almoçado eu compraria um cachorro quente bem gostoso, 
que vende aqui perto, pra você 

- você tem que parar de me mimar

- é serio ou você ta fazendo charminho?

Sorriu aquele sorriso miúdo em que eu não vejo seus dentes: 

- não vou te responder... 

Eu viveria o resto da semana com aquelas lembranças... 
Que se romperiam efêmeras pelo medo de que elas não voltassem a existir. Melancolia. 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

domingo, 29 de março de 2015

O mendigo na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta


Vai parecer poético, mas juro que não é ficção. O mendigo na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta pedia: “Alguém me dá uma vida?”

quarta-feira, 25 de março de 2015

Vinho

Apenas o cheiro do vinho já me tonteia
Talvez apenas um gole dele
Para acordar tristezas, mágoas e desejos

segunda-feira, 23 de março de 2015

Vento na plataforma


            Quando o trem chegou, ventou na plataforma. A menina de vestido carregava um livro em uma das mãos. A mão livre ficou em duvida se segurava o chapéu vermelhou ou a saia que voava.

            As coxas dela eram lindas.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Visita no meio do turno

Dois dias depois e ainda me faz sorrir
A visita inesperada no meio do turno
Essa maneira que a gente encontra
De enganar o sistema

Pode passar meses que ainda sorrirei
Das piadas que você fez
De cada mania sua
Que eu chamo de charme
Disseram que meus olhos brilhavam
Enquanto te olhava
A gente conversava sobre nada
E eu sorria
Por muito tempo fui eu que visitei
Agora era você que visitava

"Você me acompanha até a plataforma?"
Quis responder louca e sem contexto:
"A gente se acompanha na vida"

sexta-feira, 13 de março de 2015

O passado e a fumaça do cigarro


            Juntos sorrimos, para quando voltarmos para casa cuspirmos que não temos vontade de viver.

            Cada um em uma casa, em um canto, em um quarto. Eu poderia escrever: “Cada um em sua casa, em seu canto, em seu quarto.” Mas nenhum de nós tem lugar nesse mundo, somos todos despatriados, sem lar...
             O tempo anda diferente e parece que foi há muito tempo, mas essa época está tão perto. A fumaça do cigarro dele me acertava a cara e meu silêncio era palpável; ele reclamava de meu silêncio, que por tímido se confunde em apatia. Ele falava e a fumaça do cigarro fazia espirais no ar.


 
 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Ela saberá que é pra ela

Das lembranças da pele
As dos lábios são as mais profundas
Eu via o seu rosto
No fim de tarde
Os faróis dos carros passando
Iluminavam seus olhos de tempo em tempo
Mas mesmo no escuro
De olhos fechados
Eu adivinharia o seu rosto
 
Achava graça
Das suas pernas
Encolhidas no banco
O vestido branco curto
O decote
A mudança de tom de pele
Anunciando seus seios
 
Você falava de uma confusão
E eu só conseguia pensar nos seus lábios
No ultimo beijo
Público, longo e desavergonhado
Que eles tinham me dado

sábado, 7 de março de 2015

Assovio


            Lembro que assim que ele apareceu, em frente às catracas, o achei elegante com seus sapatos brancos. Ia para Sé. Enquanto o conduzia ao longo da plataforma ele assoviava uma canção. Sorri quando reconheci a música. Antes de entrar no trem perguntou se eu trabalharia no oito de março. Respondi que sim. Ele embarcou e me desejou um bom dia de trabalho. Lembrei como gosto de pessoas que assoviam...
https://www.youtube.com/watch?v=3ZW_keqnzD8

"(...)
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão
(...)"

sexta-feira, 6 de março de 2015

Tarde de maio

Era um mar de cachos pretos
Fios dourados invadindo pela direita
Bem no centro olhos que me olhavam
Se fechavam e sonhavam
Iluminação perfeita
O sol queimando em uma tarde de maio
De outono
Toda minha existência nela
E os olhos dela embriagados de afeto
Refletiam os meus ofuscados de desejo

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Café


            Dois homens sentados a minha frente terminam o namoro. A decisão é racional e foi muito bem pensada. O mais novo dos dois chora e o outro o busca com as mãos na tentativa de cessar as lágrimas. Eles ainda se beijam, dividem um copo de café e se olham... Na mesma mesa que eu duas garotas de aliança na mão sorriem. Uma lê Cristiane F., a outra estuda matemática e me sorri de vez em quando. Eu sorrio de volta... Ao meu lado se sentam três homens, cada um com um caderno de desenho nas mãos. Tiram das mochilas lápis, canetas, pinceis e começam a desenhar... Me levanto para ir embora, olho todos na sala, coloco minha mochila nas costas, dentro dela minhas sapatilhas. Sorrio, mas não me despeço de ninguém.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

"Me morde..."

No vale dos seios
Pinta solitária
Desenhada por encanto
Pingo de tinta
Caiu na pele branca
A boca no cume
Os dentes a querer rasgar

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Saudade de Lígia

Ainda lembro de nós duas sentadas no banco em frente a biblioteca olhando pro gramado verde. Você olhou pro céu e disse que adorava dias cinzas, olhou pra minha cara fechada de quem odeia dias cinzas e então voltou a dizer: “esqueci que você fica chateada em dias cinzas, prefiro dias claros que você tá alegre!” – o dia não era mais cinza naquele instante...



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Carnaval

Descompassava o sorriso no rosto
Menina dançava que nem sentia
Como se fosse o mundo de Chico
Todo mundo reparava nas flores que ela vestia

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Relógio de ponto


Quando eu ia para o trabalho pensei em me atirar nos trilhos do trem. Mas pensei que seria maldade te fazer recolher meus pedaços... Noite passada minha tristeza quase abriu uma cicatriz em nós dois. Quando o trem saiu do subsolo e chegou a parte elevada vi o céu. O sol tentava romper as nuvens e nascer. Riscava o negro das nuvens de um azul esverdeado querendo ser amarelo. Achei bonito e sorri antes de deixar parte da minha vida no relógio de ponto. Talvez eu a resgate daqui oito horas e meia quando eu bater o cartão marcando minha saída. Talvez não, talvez nem no banho, talvez nem em sonho, talvez nem na conversa com amigos eu recupere o que deixo no relógio de ponto. Talvez nem dormindo com você, meu bem. Talvez nem dançando.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Os olhos cheios de desejo


Deslizo sobre o seu corpo
A cena toda em câmera lenta
Movo os quadris
Suas mãos em minha cintura
Sigo o ritmo
Lascívia
Fecho os olhos
Respiro fundo
E mergulho de novo
Tendo você cada vez mais fundo em mim
Apoio minhas mãos sobre o teu peito
Afundo as unhas na carne
Busco os olhos cheios de desejo

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A casa vazia. Vazia.



            A casa vazia. Mas escuto a minha cachorra tomando água e meus pais se mexem na cama. A madeira estala. Inspira e respira. O som da respiração pesada vem da cama ao lado e é da minha irmã. A casa está vazia. Escuto cada gota caindo na cama. O choro é livre porque a casa está vazia. Nenhum deles irá me mandar mensagem que diga que eles estão vivos e que ainda gostam de mim. Vazia. Sinto falta de alguém que me mande pra cama na hora certa. Simulo um diálogo e me deito sozinha. O relógio apita. Já é tarde demais. A casa vazia. Vazia.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Ballet



Faz catorze graus
E sinto meu corpo quente
Os joelhos tremem
Mas as pernas nunca tão fortes
Ensaio sentir sua falta
Mas estou completa
Sou grande
Pernas
Braços
Me finjo pequena
Engano a ti e a mim
Ilusão que preciso de abrigo
Mas sou eu quem tenho abraço aberto
E guardo o mundo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Gestos




            Trouxe ela pra casa por acidente. Ela me sorriu e eu a quis aqui comigo. Não sabia nada dela e mesmo assim a queria. Notei cada gesto dessa desconhecida que eu sonhava agora em minha cama e que eu queria devorar mais do que a própria fome. Ela ficava nas pontas dos pés sem necessidade alguma, já era alta o suficiente pra tudo; as vezes ate ganhava alguns centímetros de mim quando se aprumava. Quando ia escovar os dentes usando a minha escova deslizava o pé direito pela perna esquerda até ele encostar no joelho, e o deixava ali enquanto se olhava no espelho e via a espuma se formando entre os lábios que eu mordia com um apetite que eu tentava negar. Tinha mania de se jogar no chão e deitar com uma perna sobre a outra, os pés esticados, tão juntos que pareciam um só. E o sorriso aberto e lindo. Eu não entendia nada do que ela falava, era sempre eu quem falava mais. E ela sempre a ouvir com os olhos de jabuticaba que olhavam nos meus ao ponto de me queimar e me fazer fugir com os olhos para qualquer outro lugar.