quarta-feira, 20 de julho de 2016

[diário de dias ruins]


15 de julho. Eu estava certa. Decidida. Viajaria sim ou sim. Veria o mar pra me livrar de todas essas tragédias que revivo e sobrevivo em São Paulo com a ajuda de uma amiga. Mas vem sem avisar essa tristeza enorme que eu quero que não suba a superfície, e que quando por um acaso desconhecido sobe que cesse o mais rápido possível. Às vezes basta uma frustração pequena e eu como uma criança mimada me ponho a chorar. Mas é que eu preciso que você entenda que a vida já tem me cobrado tanto, me tirado tanto, que quando mais um plano, mais um desejo meu falha tudo aqui dentro desaba mais uma vez e vem essa tristeza, essa dor que se transforma em física e o choro incessante. Às vezes não ocorre nada e o choro já brota. E quando começa esse desaguar não há nada que faça parar. Machuco meus olhos de tanto enxugar lágrimas. E tudo só acaba com o cansaço e o sono me fazendo dormir pra amanhecer de olhos inchados e com vergonha de ser fraca e deixar essa tristeza me dominar por inteira. E acordo com o medo de que não consigo prosseguir sozinha é uma viagem é impossível longe de quem segure minhas mãos e me faça respirar no meio dessas crises. Vou ficar em São Paulo sem ver o mar.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Mingau de farinha láctea com achocolatado


[ou pro Yuri se ele quiser]

no meio das palavras de ódio
que escrevo
pra desafogar qualquer coisa em mim
no meio do dialogo corrido
cheio de libido e de vontades inconfessáveis
pausa
tento encontrar de novo as palavras delicadas
pra me declarar
entre panelas de mingau com chocolate
divididas
colher contra colher disputando a raspa da panela
abraços quentes depois do gozo
e uma preocupação de se estar bem
a falta de vontade de sair do abraço
pra servir a maquina na manhã seguinte
o sorriso aberto
e mais e mais vontade
de transa
de dizer que ama
de acalmar o choro
e o gosto do queijo roquefort
e do vinho que ta vinagrando na minha cômoda
no nosso beijo
e as fugas da policia
e nossos corpos dançando no meio da pista
e os shows que eu quero mais
assistir a final de basquete na minha cama
e vibrar com aquele toco do Lebron James
estourar cravinhos e espinhas
como se fosse carinho
e não conseguir nunca chegar ao fim

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Desculpas de um relacionamento aberto


desculpa,
eu não quis ficar doente naquela noite
em que você transava com ela 
não foi planejada aquela garoa
enquanto você fudia com ela
não foi psicológico
não foi emocional
foi a madrugada mais fria do ano
e eu esqueci meu cobertor
onde a gente dormiu junto pela ultima vez
e em casa não tinha coberta suficiente
pra parar o frio
e eu sentia dó do meu cachorro dormindo no tapete
mas quando eu acordei
e ainda garoava
eu descobri que a coberta encostou no chão
e ele se escondeu debaixo dela

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Tragédias previsíveis


[acho que me traumatizou as horas excessivas assistindo "Premonição" e suas seqüências intermináveis]
prevejo tragédias
das mais pequenas
as fatais
perder o horário do ônibus
pegar o ônibus errado
viajar para onde eu não conheça e não queira
me perder sem saber como voltar
acidente de ônibus
eu rolando ribanceira a baixo
as pessoas que gostam de mim chorando
e o vizinho de poltrona querendo foder comigo
antes da morte
e a ultima visão dele
minhas cochas magras na saia curta demais
na batida com o caminhão na contramão
o sequestro pelo taxista
roubo
estupro
assassinato
o golpe do falso hotel
dormir na rua
sem dinheiro
sem ter como voltar
o atropelamento na ponte estreita
assalto
sequestro
estupro
assassinada
na noite escura
em São Paulo, Goiânia, Paraty ou Salvador
a queda na ponte estreita
afogamento no rio que desemboca no mar
ou o muro da rua da minha vó
caindo sobre mim
me matando esmagada
sem documento
sem ninguem saber que eu estava lá
que fui eu os restos
carne
sangue
osso
na calçada
melhor limpar os restos
antes da saída das adolescentes uniformizadas do colégio da rua de cima