sábado, 28 de maio de 2016

Sobre aquela briga sem porque

Encontrei uma gravação ainda mais bonita daquela música que te mostrei há muito tempo, quando a gente ainda nem sabia se a gente queria ser a gente. Quis te mandar na hora, abri sua página no face, copiei o link, mas lembrei das mensagens trocadas mais cedo e deixei pra lá. Fiquei sozinha ouvindo a música. Pra ver se aliviava, mas nada aliviava.
O que desatou o choro foi a falta de carinho, foi que o diálogo que eu esperava não aconteceu e minha insegurança falou mais alto do que de costume e dominou qualquer tipo ou possibilidade de expressão minha.
E desatei a falar tudo o que eu sentia, que me confundia, que me sufocava. E do teu lado por mais que você falasse era silêncio diante do que eu gritava. Descaso, destrato, mesmo que você não quisesse - e eu sei que não queria. Era. É que as vezes a gente não é mesmo o que o outro precisa, o que o outro espera. A gente é só o que a gente pode ser, mesmo.
E nada deixava mais leve o peso no meu coração.

Poema de ódio e desvario porque a vontade de foda é maior que a fome


Ela quebrou o espelho do banheiro
A fita cassete
E o liqüidificador
Deu fantasiada de mulher fatal
No local de trabalho
E todo mundo soube
A lingerie rasgada no chão
Ela chorou tantas vezes
Planejou vida nova
E fugiu de casa
Drama pronto
Mais trágico que eu
Pondo as coisas dele pra fora
Recolhendo as roupas pra devolução
E o choro convulso de mais um termino que nao consegue ser fim
É melhor beber agora
Fumar um
Beijar quantas bocas puder
Pra manter a sanidade
E terminar qualquer briga numa foda boa
Em que eu rezo pra não gemer muito alto
E pra ele não gozar antes
Abortando qualquer possibilidade de final feliz pra essa noite
Depois a gente dorme
E o choro convulso fica pra outro dia
E ela se desfaz do espelho quebrado
Da fita cassete quebrada
Do liqüidificador quebrado
E volta pra casa porque não sabe viver em outro lugar
De outro jeito
Sem ser casada
Mulher de casa
Infiel
Julgada pelas fodas que não foram dele
E a gente no desvario de romper o ciclo
Sonha com uma comunidade de mulheres
Mas tanto faz se a outra só quer fuder
Mesmo sabendo do meu sangue atravessado
Porque sororidade é meu cu
Que eu dei naquela noite mesmo depois de jurar que nunca faria
Mas que foi bom
E me fez gemer alto
E minha perna tremer
Lembrando dela me comendo com o dedo
Enquanto eu agarrava seus seios

A poeta sem emprego


Porque ser poeta sem ter que bater cartão no dia seguinte
É facil
Queria ver você no meu lugar
Passando mal diante do relógio de ponto
E ainda assim, querendo fazer verso com a dor
Dormindo de cansaço no banco do onibus
Batendo a cabeca contra a janela
Enquanto sonha em fazer poesia
Fui acordada no terminal de onibus
E tive qua andar de volta três pontos
Quase corrida
Pra nao chegar atrasada no sarau
Ser poeta e pagar o aluguel com o dinheiro do pai
Qualquer um pode
Quero ver rimar
Diante do caixa eletrônico
Percebendo que esse mês não vai dar
Ou até ter dinheiro sobrando
Mas descartar aquela viagem no fim de semana com os amigos
Porque a folga só cai na quarta
Quero ver recitar teus versos
Diante dos gritos da tua chefe na frente de todo mundo
E deixar sonoro o assédio
No fim escrevi um poema de inveja
Das tuas tardes livres
E teu tempo pra ler poesia em voz alta no meio da biblioteca

Sobre as ultimas noticias e mulher


É que eu recebi a noticia
Mas não deu pra acreditar
Era tão absurdo
Mas ai foi bombardeando em mim a noticia
Me atingiu de uma vez
Me atingiu aos poucos
Igual afogamento
Quando a onda atinge a gente em cheio
Mas a gente fica lá de baixo da água vendo tudo em câmera lenta
Ate que sobe pra respirar desesperado
E tudo arde com o salgado do mar
E me faltou a respiração
No meio do trabalho
Quase me veio o choro
Mas lembrei que não é apropriado chorar no local de trabalho
Não demonstrar fraqueza
Não demonstrar impotência
Mesmo quando o colega chama você de gostosa achando que é brincadeira
E a gente treme de raiva
Porque o corpo é nosso e a gente não queria aquilo
E eu nunca soube como um procedimento pode me dizer
pra não limpar a porra das roupas delas
Porque é preciso da prova pra dizer que aconteceu
Porque palavra de mulher vale menos que papel molhado
E que pro choro convulso dela no telefone
Dizendo que sonhou com o estupro dela
Eu não tive resposta
E eu lembro de quando fui na casa dela
E me sentei no sofá
Onde meses depois eu saberia que aconteceu o crime
E eu quis queimar o sofá
E se pudesse queimava todas tuas lembranças
Pra você não acordar mais chorando no meio da noite
E nem ter mais medo de dormir sóbria