terça-feira, 13 de setembro de 2016

Ernesto


das coisas que a gente não
confessa
mas era fácil ...
te dizer
depois que
você sai da cama
me agarro ao travesseiro
na falta do Pedro Diego meu
urso de pelúcia
como se
fosse a personagem do livro de
Antonio Lobo Antunes
que você me deu de aniversário
e que não
consigo terminar
que cansei de encontrar sangue
nas minhas unhas que crescem rápido
e as feridas
nas minhas pernas que
você acha tão bonitas nunca saram
é que não tenho
me cuidado
me achado bem mais pequena
que meus 1,67 de altura
e foi pra isso que comecei
a tomar a sertralina e o frontal
pra dormir
porque não tem mais
mãe pra me ajudar
as vezes acho
que nunca teve
e ter voce
ao meu lado nem parece real
quando tenho que
ser sempre sozinha
meu quarto vem
acumulando poeira
mas quando
tenho tempo pra varrer
e tomar o polaramine
pra que essa alergia não me mate
eu tenho
preferido dormir
e dormir
para sempre
porque enquanto
sono não existe
vida pra sobreviver
mas ainda
tem os pesadelos
e o seu abraço quando acordo
assustada na beira
da cama
como se
fosse abismo de onde
não quero me atirar para o vôo
porque nem sempre
é vôo
e as vezes queda que me
machuca demais
e cansei
ou desisti
cansaço ou desistência
de me levantar e
tirar a poeira das
feridas que sangram
e a apatia de nem
saber o que quero
comer na janta

sábado, 10 de setembro de 2016

Capitão gancho responde


não tem pistas no metrô
o trem anda na via
o objeto cai na via
o corpo se joga na via
mas isso é só palavreado de metroviária
da profissão de meus pais e
minha mãe confessando eu não
queria que você fosse metroviária e
meu pai dizendo é só o tempo dela
escrever um livro
mas se
ele soubesse que não
tenho coragem
de soltar meus poemas muito longe
mas se
você soubesse que nunca
quis
te jogar na via
e que foi verdade eu
pedindo pra
você me mostrar seus poemas
ainda teria ódio dentro
de ti pra mim