quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Primavera sobre trilhos


Em tempos em que o asfalto é feito de ipê
Se maravilhava a chuva nas janelas do trem
Os olhos espertos me olhavam
E os lábios sorriam fechados
 
Não desequilibrava sobre os trilhos
Porque tinha seu corpo
Só encharcava meu corpo de suor
Não de lágrimas
Guardadas em reservatórios cheios 


- USP,  foto por Gabriela Farrabrás -

sábado, 24 de janeiro de 2015

Choro


Me repetiu três vezes: “ninguém quer abrir mão de mim, mas ninguém quer me levar por inteira.” E chorou. Tentava enxugar lágrima por lágrima. Mas não cessava. 



            Era o ultimo beijo e você sabia melhor do que eu... Os lábios fechados contra os meus com força e o maior sentimento do mundo. No ônibus eu chorava lágrimas que não eram mais minhas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Fotografia



A nostalgia levou meus olhos as nossas fotografias
Meus cabelos mais curtos e sempre soltos
Você tinha menos sono e cansaço
E eu te fazia sorrir ate que seus olhos sumissem
Nos fotografávamos a todo instante
Querendo nos guardar
Depois passou a ser só você na mira da minha lente 
Só eu querendo te guardar a qualquer custo
Você querendo que eu me soltasse
Que as fotos fossem só lembranças
Ficando no passado
Não perturbando o presente

sábado, 17 de janeiro de 2015

Artigo sobre sonhos breves e sonhos longos



Batucava a musica e a ouvia de olhos fechados. Tomou um gole de cerveja e cantou o ultimo verso da musica. "Avohai".
Me agradeceu com os olhos úmidos por eu ter falado. Eu que tanto me calo. Viu que nos meus olhos eu sofria e a gente sorriu juntas. Mariana me olhou de lado e sorriu também. Ganhei doce e era feliz naquele instante.
A gente ria de baixo da chuva e os grafites nos muros passavam pela gente. "Como uma coisa assim pode doer tanto?" A gente cantava e o meu vestido já ensopado grudava entre as minhas pernas. Eu temia me apaixonar.
 
"Eu amo você também"
 
As palavras hoje não são nem efêmeras nem fugazes

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Camarada, meu amor



a Marcio Hasegava, em alguma memória 

De tanto segurar sua mão
Eu já sentia o sangue indo e vindo
Pela sua carne
Sentia seus batimentos
Na palma da minha mão

As pontas dos meus dedos
Já cheiravam ao seu cigarro
E minha língua decorava a sua
Suas palavras de revolução
Agora moravam em minha boca
Assim como seu gosto

Eu sentia seu cheiro em toda parte
Desconfiava de que era eu
Que cheirava a você
Ensaiava seus gestos
E meus atos se confundiam com os seus

Eu acamparia com você
Me aqueceria no gosto da cachaça
Em teu colo
Daria o braço a você
E enfrentaria
escudos, cassetetes, balas de borracha, bombas
patronal e estado