segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Gestos




            Trouxe ela pra casa por acidente. Ela me sorriu e eu a quis aqui comigo. Não sabia nada dela e mesmo assim a queria. Notei cada gesto dessa desconhecida que eu sonhava agora em minha cama e que eu queria devorar mais do que a própria fome. Ela ficava nas pontas dos pés sem necessidade alguma, já era alta o suficiente pra tudo; as vezes ate ganhava alguns centímetros de mim quando se aprumava. Quando ia escovar os dentes usando a minha escova deslizava o pé direito pela perna esquerda até ele encostar no joelho, e o deixava ali enquanto se olhava no espelho e via a espuma se formando entre os lábios que eu mordia com um apetite que eu tentava negar. Tinha mania de se jogar no chão e deitar com uma perna sobre a outra, os pés esticados, tão juntos que pareciam um só. E o sorriso aberto e lindo. Eu não entendia nada do que ela falava, era sempre eu quem falava mais. E ela sempre a ouvir com os olhos de jabuticaba que olhavam nos meus ao ponto de me queimar e me fazer fugir com os olhos para qualquer outro lugar.

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