sábado, 26 de novembro de 2016

Sala de supervisão operacional


"talvez seja 

a última vez

que vocês possam

estudar

literaturas africanas 

tudo o que

é progressivo 

vai desaparecer 

entre bilhetes e trocos

a fala dela

me preocupa

assim como as 

feridas brotando 

e a coluna

que ontem parecia que 

ia romper

mas não rompeu

só a vontade de

mandar a merda

o médico

ironizando a dor

nunca precisou 

entregar atestado

e meu ódio de classe

me fazendo chorar

de raiva 

na sala de espera 

e hoje quase 

chorei de novo

ela dizendo 

deixei toddynho

pra você

na éssi éssi ó 

temer calibre 16



eu chorei na vontade de fuder

de baixo do chuveiro e ele

me abraçou e pediu 

calma 

discutindo com um deus que não 

existe e nem acredito 

porque marxista e

não sei se subjetivo ou 

expressão da conjuntura política 

mas apontava um revólver pra

cabeça se tivesse um

revólver mas não

vou roubar o revólver do

meu tio que de paletó pediu

impeachment na paulista e

dar saída individual pra

toda essa dor 

Frevo de suicídio

 


"Onde eu estava quando meus amigos tentavam se matar?"

onde meus 

amigos estavam quando eu 

tentava me matar?

ela me deu a resposta 

simples todos

pensavam na morte eu

podia ouvir taxi

lunar se repetindo o

dia inteiro mas

já não consigo ensaiar os

passinhos do frevo ao

som de elba os

meus pés só sabem

agora se enrolar pra dormir

meio frontal já 

é suficiente e pensei

se conseguiria me 

matar segurando nos

fios de alta tensão do

muro do prédio vizinho da

casa dos meus pais onde

eu já não tenho cama pra mim 

ou se eu vomitaria todos 

os remédios antes de 

eles pararem meu coração 

Harakiri de Cortazar


vontade danada 

de arrebentar a mandíbula

dividir em duas partes pra

ver se liberta sapo

peixe ou Coelho 

que carrego escondido na

garganta

vontade danada de

martelar o esterno com

marreta ou bigorna

pra vomitar o que nem

com anti ácido quer

sair qualquer coisa 

vomito ou diarreia 

simular caganeira

faltar no serviço e

tomar soro expurgar 

tal demônio na 

região abdominal ou cortar

com espada feito

samurai Japones e 

observar entra as vísceras esse

bicho teimoso que não

me deixa o ar e me 

impede a mastigação 

tentando minha morte por

suicídio ou inação 

Jardins

 


afoguei cactos

matei de sede azaleias 

mas nunca nunca deixei 

secar bromélias na vã 

esperança de nascerem sapinhos

do tamanho de polegares 

as sementes de melancia cuspidas

no quintal não

nasceram mas se

adubam hortas com cascas de

mexerica e acordam 

desejos o cheiro impregnado nos

dedos que a despe o

tempo de livrar-se do seu

perfume é o mesmo tempo

das estiagens em África

ou no nordeste brasileiro 


domingo, 6 de novembro de 2016

Spotify

 


é que a gente é 

moderninho e fode ao

som de liniker,

alafia, johny hooker e

transa do caetano que é

pra parecer bem cult

conhecedor da tropicalia

a gente só não

fode ao som

de cicero porque não dá

pra foder ao som de

cicero apesar do tesao que

da com o teu 

corpo colado no meu

no meio da valsinha

mas o lance é que a gente

fode menos que a geração de 

70 mais do que a de 

50 chapando com 

maconha, clarice lispector,

catuaba e ana c.

e nada de doce porque

falta os 30 conto pra

bancar a viagem 

e a gente fode com

homem e mulher e

vive fantasiando pra

foder com os dois juntos 

enquanto goza com

o chuveirinho do box

ouvindo baiana system 

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

horário de verão



quanta claridade me
invade ainda as
seis sete ou oito ainda
não escureceu o
sexo no claro vendo
seu maxilar travar enquanto
goza ejaculando dentro da
camisinha de Vênus ou
látex e minha atenção nos
nós do seu cabelo pra
desfazer mais tarde
quase terapia assim
como espremer cravos e
espinha dorsal que
de torta travou e
pôs dor nas 
pernas braços bacia
e frida me desenhando 
nela coluna partida e o
sexo com alguma 
garota em paris

Ibiuna n.2



enche a casa arrasta
os móveis os
livros espalhados pela
sala aqui 
dentro frio enrolado
em coberta
lá fora muito
clalor e o sol na pele
arde na noite 
seguinte queimadura
mesmo tremendo dois
cobertores e o corpo
enrolado em quem quer
que seja pra não
tremer falta de sono