sábado, 29 de novembro de 2014

Sublimação



            Escorria sangue pelas faces. A cor vermelha brotava dos olhos. Em convulsão natural coçava as costas e via sangue surgir por baixo das unhas – era o seu bruxismo nas pontas dos dedos. Cessou. As pétalas vermelhas agora lhe tomavam toda a atenção e a dor era esquecida e aquecida no fundo do peito. Naquele momento o único vermelho era o da flor...

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

As tatuagens no braço dela


            As tatuagens no braço dela se tornaram meu livro de auto ajuda preferido... Quando ela me cumprimentou com um beijo e encostou a mão em meu rosto eu tremi, pois não havia mais tristeza.

sábado, 15 de novembro de 2014

Gota


            O guarda-chuva azul falhava miseravelmente na sua tarefa de protegê-la da chuva. A saia molhada grudava entre as pernas. Três gotas de chuva caíram no peito: a primeira morreu ali mesmo; a segunda avançou até o seio direito arrepiando toda a linha da coluna; a terceira fez seu caminho pelo centro e correu, mas só teve água suficiente para ir até o umbigo...  

sábado, 8 de novembro de 2014

De transporte público


O cobrador do ônibus liga para a esposa. O diálogo simples. “Acho que estou estressado, mas te amo. Beijo.” Fim da ligação.
Chovia, todas as janelas do ônibus fechadas. O vapor a escorrer nos vidros e a menina de roxo a desenhar corações e flores em todos eles.


 Entrou no ônibus e girou a catraca. O cobrador cantava “Eduardo e Mônica”. Chegou bem a tempo de escutar o verso: “E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?”

sábado, 1 de novembro de 2014

Embriagada

De repente sigo teus passos e quando o desejo me embriaga sou eu que tomo a frente e te guio. Viro à direita duas vezes e quando giro em volta de mim, como a bailarina que rodopia, te encontro atrás de mim. Você me puxa sem aviso e me desequilibro encostando todo o meu corpo sobre o seu. As suas costas contra a parede e o gosto da cerveja em minha boca. As mãos me percorrem rápido e sinto meu corpo se inflamar. No espelho minha pele se mancha de vermelho. Seu cheiro ainda sobra em minha pele e teu suspiro ecoa ao pé do meu ouvido...