domingo, 29 de março de 2015

O mendigo na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta


Vai parecer poético, mas juro que não é ficção. O mendigo na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta pedia: “Alguém me dá uma vida?”

quarta-feira, 25 de março de 2015

Vinho

Apenas o cheiro do vinho já me tonteia
Talvez apenas um gole dele
Para acordar tristezas, mágoas e desejos

segunda-feira, 23 de março de 2015

Vento na plataforma


            Quando o trem chegou, ventou na plataforma. A menina de vestido carregava um livro em uma das mãos. A mão livre ficou em duvida se segurava o chapéu vermelhou ou a saia que voava.

            As coxas dela eram lindas.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Visita no meio do turno

Dois dias depois e ainda me faz sorrir
A visita inesperada no meio do turno
Essa maneira que a gente encontra
De enganar o sistema

Pode passar meses que ainda sorrirei
Das piadas que você fez
De cada mania sua
Que eu chamo de charme
Disseram que meus olhos brilhavam
Enquanto te olhava
A gente conversava sobre nada
E eu sorria
Por muito tempo fui eu que visitei
Agora era você que visitava

"Você me acompanha até a plataforma?"
Quis responder louca e sem contexto:
"A gente se acompanha na vida"

sexta-feira, 13 de março de 2015

O passado e a fumaça do cigarro


            Juntos sorrimos, para quando voltarmos para casa cuspirmos que não temos vontade de viver.

            Cada um em uma casa, em um canto, em um quarto. Eu poderia escrever: “Cada um em sua casa, em seu canto, em seu quarto.” Mas nenhum de nós tem lugar nesse mundo, somos todos despatriados, sem lar...
             O tempo anda diferente e parece que foi há muito tempo, mas essa época está tão perto. A fumaça do cigarro dele me acertava a cara e meu silêncio era palpável; ele reclamava de meu silêncio, que por tímido se confunde em apatia. Ele falava e a fumaça do cigarro fazia espirais no ar.


 
 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Ela saberá que é pra ela

Das lembranças da pele
As dos lábios são as mais profundas
Eu via o seu rosto
No fim de tarde
Os faróis dos carros passando
Iluminavam seus olhos de tempo em tempo
Mas mesmo no escuro
De olhos fechados
Eu adivinharia o seu rosto
 
Achava graça
Das suas pernas
Encolhidas no banco
O vestido branco curto
O decote
A mudança de tom de pele
Anunciando seus seios
 
Você falava de uma confusão
E eu só conseguia pensar nos seus lábios
No ultimo beijo
Público, longo e desavergonhado
Que eles tinham me dado

sábado, 7 de março de 2015

Assovio


            Lembro que assim que ele apareceu, em frente às catracas, o achei elegante com seus sapatos brancos. Ia para Sé. Enquanto o conduzia ao longo da plataforma ele assoviava uma canção. Sorri quando reconheci a música. Antes de entrar no trem perguntou se eu trabalharia no oito de março. Respondi que sim. Ele embarcou e me desejou um bom dia de trabalho. Lembrei como gosto de pessoas que assoviam...
https://www.youtube.com/watch?v=3ZW_keqnzD8

"(...)
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão
(...)"

sexta-feira, 6 de março de 2015

Tarde de maio

Era um mar de cachos pretos
Fios dourados invadindo pela direita
Bem no centro olhos que me olhavam
Se fechavam e sonhavam
Iluminação perfeita
O sol queimando em uma tarde de maio
De outono
Toda minha existência nela
E os olhos dela embriagados de afeto
Refletiam os meus ofuscados de desejo