sábado, 3 de janeiro de 2015

Cinema e as poltronas vermelhas




Cinema e as poltronas vermelhas. Todos se sentam de par em par, trios e grupos. A menina de vestido florido senta-se sozinha. Olha pro banco a sua frente, pras próprias botas, levanta o rosto e olha as luzes que ainda iluminam a sala. Quando ela ergue o rosto eu vejo como é bonita. Os cachos fazem sombra no seu rosto e eu sorrio. Ela também sorri e eu não sei para quem. Faz um calor enorme na cidade, mas os pelos do braço dela se arrepiam com o ar condicionado da sala. O casal ao lado dela fala sobre clichês da vida e ela ri, eu rio também. Ela estala os dedos e se coça varias vezes. Acho irritante as unhas arranhando sua pele. Ela tira as botas, dobra as pernas sobre a poltrona e coloca a mão no queixo. As luzes se apagam. As luzes se acendem. Os olhos vermelhos e o rosto molhado de lágrimas. Ela nem ao menos tenta secá-las e há alguma força em se mostrar tão frágil. Foi apenas a mocinha do filme que morreu e ela chora. Mas talvez ela chore as próprias dores no choro e não é só a mocinha que morre. Os créditos sobem e ela vai embora da sala. De novo sou eu e as poltronas vermelhas da sala de cinema.

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