Cinema e
as poltronas vermelhas. Todos se sentam de par em par, trios e grupos. A menina
de vestido florido senta-se sozinha. Olha pro banco a sua frente, pras próprias
botas, levanta o rosto e olha as luzes que ainda iluminam a sala. Quando ela
ergue o rosto eu vejo como é bonita. Os cachos fazem sombra no seu rosto e eu
sorrio. Ela também sorri e eu não sei para quem. Faz um calor enorme na cidade,
mas os pelos do braço dela se arrepiam com o ar condicionado da sala. O casal
ao lado dela fala sobre clichês da vida e ela ri, eu rio também. Ela estala os
dedos e se coça varias vezes. Acho irritante as unhas arranhando sua pele. Ela
tira as botas, dobra as pernas sobre a poltrona e coloca a mão no queixo. As
luzes se apagam. As luzes se acendem. Os olhos vermelhos e o rosto molhado de
lágrimas. Ela nem ao menos tenta secá-las e há alguma força em se mostrar tão
frágil. Foi apenas a mocinha do filme que morreu e ela chora. Mas talvez ela
chore as próprias dores no choro e não é só a mocinha que morre. Os créditos
sobem e ela vai embora da sala. De novo sou eu e as poltronas vermelhas da sala
de cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário