Minha
respiração arfava, a dela era calma apesar de funda. Ela me olhava com os olhos
negros e duros. Parecia haver maldade naquele olhar, como se os gemidos que
acabar de emitir tivessem evocado algum demônio que estava adormecido dentro do
seu corpo magro. E agora era o demônio que me observava através dos olhos dela.
Ela não ficava mole como as outras mulheres que tive na cama; ela não buscava
meu peito para deitar a cabeça; ela mantinha o meu corpo ali sobre o dela,
fundindo nosso suro e me olhando nos olhos com aquele olhar que me dava medo e
me atraía. Eu ficava naquele instante como uma mariposa enfeitiçada pela luz da
vela. Era sempre eu que quebrava o silêncio com alguma falsa declaração. Só
então, ela me beijava e me sussurrava “obrigada” ao pé do ouvido. A dureza do
seu olhar se derretia e ela era de novo a parte doce de si mesma; a parte que
eu temia que se apaixonasse por mim e que eu pudesse ferir. No fim eu sempre
sabia que todas as partes dela me causavam temos por diferentes motivos. Era
como se eu fosse dia cinza até ela chegar e agora me causava todo tipo de
perturbação, fazia as nuvens se precipitarem em chuva. Ela era a própria tempestade.
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